Este é um discurso que costumo ouvir com alguma regularidade. «eles» são obviamente o estado português e normalmente estes comentários surgem de uma forma inflamada em conversas relacionadas com impostos.
Bem, tenho que dizer que acho muito curioso o facto de que eu é que sou o libertário que defende uma menor intervenção estatal e que não liga muito às noções de pátria ou de bandeira, mas normalmente são pessoas mais conservadoras e defensoras do status quo que acham que o pronome adequado para o estado é a terceira pessoa do plural em vez da primeira.
Na minha opinião o que se passa é que as pessoas não gostam de pagar impostos. Normalmente a razão apresentada é o facto de que os impostos são frequentemente mal gastos e que existem coisas que funcionam muito mal no sistema - nunca percebi como é que a partir deste argumento se chega à conclusão que não se deve pagar, mas deve ser algum tipo de limitação minha.
Um argumento um pouco mais fácil de entender é o facto de que existe injustiça fiscal e portanto "eu não pago se os outros não pagam" - o que equivale a: se existem parasitas, então eu também quero ser um! (normalmente as pessoas não reagem muito bem quando lhes refraseio o argumento desta forma)
Por exemplo a seguinte frase:
"O estado gasta mal o dinheiro do estado"
Normalmente ouço-a enunciada da seguinte forma:
"«eles» gastam mal o «nosso» dinheiro"
Raramente ouço:
"«eles» gastam mal o dinheiro «deles»"
e é mesmo MUITO raro ouvir:
"«nós» gastamos mal o «nosso» dinheiro"
(O mais perto que que já ouvi foram políticos da oposição a dizer "«nós» gastamos mal o «vosso» dinheiro", em que este «nós» quer na realidade dizer «eles»)
Ainda pior que isso, a prática de considerar o estado como um «eles» chupista que não merece nada tornou-se tanto um lugar comum que hoje em dia muitas pessoas pensam que sou um maluquinho só porque decidi pagar os impostos sobre as obras da minha casa. Quando digo que pedi uma factura que me vai custar alguns milhares de euros acham que eu sou rico ou que não regulo bem - e mesmo depois de eu explicar as razões que me levaram a fazê-lo, raramente as pessoas mudam a sua forma de pensar (embora já tenha acontecido).
"O povo tem os políticos que merece"
Tuesday, July 10, 2007
Viagens: "tomem lá a chave, volto dentro de uma hora"
Após dois ou três dias de viagem pelo Alasca eu e o meu companheiro de viagem estávamos com um certo.... mau aspecto. Tínhamos passado as últimas duas noites a dormir em parques de campismo à chuva, em terrenos alagados e enlameados, sem sítio para tomar banho. O nosso carro alugado não era propriamente um portento e tinha o mesmo mau aspecto que nós.
Eis que chegamos a uma pequena povoação chamada Homer - um sítio muito bonito rodeado por água, montanhas e verde (bem - esta seria uma boa descrição para quase todo o alasca) - e começamos à procura de um sítio para ficar.
Depois de procurar um pouco chegamos a uma vivenda um pouco isolada - já fora da povoação. Era uma vivenda muito bem arranjada situada na encosta do monte - um sítio com uma vista privilegiada sobre a área circundante.Batemos à porta com algum receio da recepção que duas pessoas com o nosso aspecto teriam num sítio como aqueles. Eu só pensava que se fosse na Europa e aquela casa fosse minha, provavelmente nem sequer abriria a porta.
A senhora que nos abriu a porta mandou-nos logo entrar para vermos o quarto que ela tinha para alugar. Era um quarto muito bem arranjado (num estilo um pouco exagerado e infantil, na minha opinião) - via-se que tinha pertencido ao filho(a) que entretanto tinha saído de casa, e que ela tinha transformado o quarto de forma a poder receber hóspedes.Eu estava a sentir-me mal só de me sentir tão sujo numa casa tão imaculada e tratada com tanto cuidado, mas o verdadeiro choque ainda estava para vir.
Ela levou-nos ao segundo andar onde ficava uma grande sala. Haviam umas portas de vidro na parede que dava para a varanda e que davam uma vista fabulosa. Toda a sala estava cuidadosamente decorada com todos os confortos modernos - não havia dúvida que aquela pessoa morava ali.
Perguntou-nos se queríamos ficar naquela noite, ao que respondemos logo que sim. Eis que então ela se vira e diz: "óptimo, tomem lá a chave de casa. Eu tenho que ir buscar a minha mãe à estação de comboio e volto daqui a uma hora. Se precisarem de alguma coisa sirvam-se, se quiserem liguem a televisão, as toalhas para o banho estão acolá, etc. - e foi assim que ficámos sozinhos numa casa de uma pessoa que não conhecíamos, com a chave de toda a casa e o nosso carro parado à porta. Ela nem sequer nos pediu os passaportes!
No dia seguinte ao pequeno almoço tive mesmo que perguntar se aquele comportamento era normal, ou se ela era simplesmente "diferente". Durante a conversa pareceu-me realmente diferente em relação ao que estava à espera de ver nos estados unidos - uma idealista de esquerda que até já tinha participado em manifestações anti-bush. Durante a conversa (o que vim a confirmar durante a viagem) descobri que existia muita gente assim por aqueles lados - uma espécie de libertários ultra-ecologistas, habituados a viver numa grande comunidade do tamanho de um continente - um choque para quem estava à espera de encontrar eremitas a correr atrás dos ursos com uma espingarda na mão.
E em portugal há pessoas que acham que eu sou estranho por não trancar a porta da rua à noite antes de me ir deitar - viajar é aprender...
Eis que chegamos a uma pequena povoação chamada Homer - um sítio muito bonito rodeado por água, montanhas e verde (bem - esta seria uma boa descrição para quase todo o alasca) - e começamos à procura de um sítio para ficar.
Depois de procurar um pouco chegamos a uma vivenda um pouco isolada - já fora da povoação. Era uma vivenda muito bem arranjada situada na encosta do monte - um sítio com uma vista privilegiada sobre a área circundante.Batemos à porta com algum receio da recepção que duas pessoas com o nosso aspecto teriam num sítio como aqueles. Eu só pensava que se fosse na Europa e aquela casa fosse minha, provavelmente nem sequer abriria a porta.
A senhora que nos abriu a porta mandou-nos logo entrar para vermos o quarto que ela tinha para alugar. Era um quarto muito bem arranjado (num estilo um pouco exagerado e infantil, na minha opinião) - via-se que tinha pertencido ao filho(a) que entretanto tinha saído de casa, e que ela tinha transformado o quarto de forma a poder receber hóspedes.Eu estava a sentir-me mal só de me sentir tão sujo numa casa tão imaculada e tratada com tanto cuidado, mas o verdadeiro choque ainda estava para vir.
Ela levou-nos ao segundo andar onde ficava uma grande sala. Haviam umas portas de vidro na parede que dava para a varanda e que davam uma vista fabulosa. Toda a sala estava cuidadosamente decorada com todos os confortos modernos - não havia dúvida que aquela pessoa morava ali.
Perguntou-nos se queríamos ficar naquela noite, ao que respondemos logo que sim. Eis que então ela se vira e diz: "óptimo, tomem lá a chave de casa. Eu tenho que ir buscar a minha mãe à estação de comboio e volto daqui a uma hora. Se precisarem de alguma coisa sirvam-se, se quiserem liguem a televisão, as toalhas para o banho estão acolá, etc. - e foi assim que ficámos sozinhos numa casa de uma pessoa que não conhecíamos, com a chave de toda a casa e o nosso carro parado à porta. Ela nem sequer nos pediu os passaportes!
No dia seguinte ao pequeno almoço tive mesmo que perguntar se aquele comportamento era normal, ou se ela era simplesmente "diferente". Durante a conversa pareceu-me realmente diferente em relação ao que estava à espera de ver nos estados unidos - uma idealista de esquerda que até já tinha participado em manifestações anti-bush. Durante a conversa (o que vim a confirmar durante a viagem) descobri que existia muita gente assim por aqueles lados - uma espécie de libertários ultra-ecologistas, habituados a viver numa grande comunidade do tamanho de um continente - um choque para quem estava à espera de encontrar eremitas a correr atrás dos ursos com uma espingarda na mão.
E em portugal há pessoas que acham que eu sou estranho por não trancar a porta da rua à noite antes de me ir deitar - viajar é aprender...
Tuesday, July 3, 2007
Não sei o que quero, mas quero JÁ!
Esta frase foi-me dita por um "crente" como sendo algo que é suposto representar as pessoas do signo de Carneiro.
Pessoalmente não acredito em signos (frequentemente tiro um prazer sádico em tentar apanhar em contradições lógicas as pessoas que acreditam) mas tenho que confessar que acho que esta frase é realmente uma boa definição de mim mesmo.
Lembro-me que quando era pequeno haviam dois tipos de prenda que detestava receber no natal:
- A primeira eram meias e cuecas. Na minha visão materialista e interesseira achava que este tipo de prendas nem deveriam contar como prendas - afinal, eram uma obrigação parental! No máximo deveriam contar como prendas para os meus pais (ah, se eu pudesse andar para trás no tempo e dar-me umas boas bofetadas!).
- A segunda eram qualquer tipo de prendas que eu achasse muita giras, mas que viessem sem pilhas. Quando tinha que esperar aqueles dias adicionais sem poder usar os brinquedos novos sentia uma frustração inimaginável. Era pior do que se a prenda viesse partida ou avariada - afinal, quem é que tinha sido tão desinteressado ao ponto de me oferecer algo que não funcionava apenas por descuido? Aquela prenda haveria de contar CONTRA o ofertante, em vez de contar a favor!
A minha mãe costuma contar-me a história de uma vez eu estar a fazer uma birra dentro de uma loja. Ela perguntou-me porque é que eu chorava e eu disse: "Quero qualquer coisa! Não sei o que é, mas compra-me QUALQUER COISA!" (pensando bem, andava para trás no tempo e dava-me a mim mesmo MUITAS e EXCELENTES bofetadas)
Hoje continuo a não gostar de receber meias ou cuecas - na realidade não gosto particularmente de receber bens materiais como prendas (na minha próxima festa de anos acho que vou pedir a cada pessoa que leve e me conte uma história sobre si mesmo que eu nunca tenha ouvido) - mas continuo a detestar chegar a casa com um "brinquedo" novo e descobrir que falta qualquer coisa para que eu possa usar.
Ainda há uns dias senti uma frustração enorme quando cheguei a casa com pincéis, tabuleiros de pintura, cabos telescópicos, um berbequim para mexer a tinta, jornais, plásticos - e descobri que a cor da tinta que eu tinha comprado estava errada, obrigando-me a voltar à loja antes de poder começar a pintar - a minha irritação devia ser quase palpável.
Por outro lado noto que sou assim quando arranjo alguma coisa que goste de fazer: a minha namorada já sabe que quando começo a fazer um puzzle novo, um jogo de computador novo, quando encontro umas pautas de uma música que procurava há algum tempo ou quando lhe digo que tenho um projecto novo e interessante no trabalho - que vai ter uma cama mais fria nas próximas noites (há que reconhecer que ela tem muita paciência).
Esta impaciência tem um impacto bastante mensurável no meu trabalho: embarco com muita vontade em projectos novos, que por outro lado tenho pouca paciência/vontade de acabar. No final acho que este facto até me dá alguma vantagem, uma vez que acabo por andar sempre à frente de quem começa mais devagar, o que me permite controlar melhor a forma como as coisas se desenvolvem.
Acho que não quero mudar - decidi aceitar que sou assim impaciente e pronto. Optei antes por desde cedo arranjar mecanismos para me defender de mim próprio: o que faço é tentar ter muitas coisas interessantes a decorrer em simultâneo, o que me permite ter sempre a minha atenção focada em algo enquanto espero que o resto aconteça. Um bom exemplo disto é o facto de frequentemente andar com um livro atrás (acho que se não fosse tão impaciente não teria lido um décimo dos livros que li). Por outro lado uma das principais razões pelas quais deixei o parapente foi porque não tinha paciência para esperar pelo vento propício.
Pessoalmente não acredito em signos (frequentemente tiro um prazer sádico em tentar apanhar em contradições lógicas as pessoas que acreditam) mas tenho que confessar que acho que esta frase é realmente uma boa definição de mim mesmo.
Lembro-me que quando era pequeno haviam dois tipos de prenda que detestava receber no natal:
- A primeira eram meias e cuecas. Na minha visão materialista e interesseira achava que este tipo de prendas nem deveriam contar como prendas - afinal, eram uma obrigação parental! No máximo deveriam contar como prendas para os meus pais (ah, se eu pudesse andar para trás no tempo e dar-me umas boas bofetadas!).
- A segunda eram qualquer tipo de prendas que eu achasse muita giras, mas que viessem sem pilhas. Quando tinha que esperar aqueles dias adicionais sem poder usar os brinquedos novos sentia uma frustração inimaginável. Era pior do que se a prenda viesse partida ou avariada - afinal, quem é que tinha sido tão desinteressado ao ponto de me oferecer algo que não funcionava apenas por descuido? Aquela prenda haveria de contar CONTRA o ofertante, em vez de contar a favor!
A minha mãe costuma contar-me a história de uma vez eu estar a fazer uma birra dentro de uma loja. Ela perguntou-me porque é que eu chorava e eu disse: "Quero qualquer coisa! Não sei o que é, mas compra-me QUALQUER COISA!" (pensando bem, andava para trás no tempo e dava-me a mim mesmo MUITAS e EXCELENTES bofetadas)
Hoje continuo a não gostar de receber meias ou cuecas - na realidade não gosto particularmente de receber bens materiais como prendas (na minha próxima festa de anos acho que vou pedir a cada pessoa que leve e me conte uma história sobre si mesmo que eu nunca tenha ouvido) - mas continuo a detestar chegar a casa com um "brinquedo" novo e descobrir que falta qualquer coisa para que eu possa usar.
Ainda há uns dias senti uma frustração enorme quando cheguei a casa com pincéis, tabuleiros de pintura, cabos telescópicos, um berbequim para mexer a tinta, jornais, plásticos - e descobri que a cor da tinta que eu tinha comprado estava errada, obrigando-me a voltar à loja antes de poder começar a pintar - a minha irritação devia ser quase palpável.
Por outro lado noto que sou assim quando arranjo alguma coisa que goste de fazer: a minha namorada já sabe que quando começo a fazer um puzzle novo, um jogo de computador novo, quando encontro umas pautas de uma música que procurava há algum tempo ou quando lhe digo que tenho um projecto novo e interessante no trabalho - que vai ter uma cama mais fria nas próximas noites (há que reconhecer que ela tem muita paciência).
Esta impaciência tem um impacto bastante mensurável no meu trabalho: embarco com muita vontade em projectos novos, que por outro lado tenho pouca paciência/vontade de acabar. No final acho que este facto até me dá alguma vantagem, uma vez que acabo por andar sempre à frente de quem começa mais devagar, o que me permite controlar melhor a forma como as coisas se desenvolvem.
Acho que não quero mudar - decidi aceitar que sou assim impaciente e pronto. Optei antes por desde cedo arranjar mecanismos para me defender de mim próprio: o que faço é tentar ter muitas coisas interessantes a decorrer em simultâneo, o que me permite ter sempre a minha atenção focada em algo enquanto espero que o resto aconteça. Um bom exemplo disto é o facto de frequentemente andar com um livro atrás (acho que se não fosse tão impaciente não teria lido um décimo dos livros que li). Por outro lado uma das principais razões pelas quais deixei o parapente foi porque não tinha paciência para esperar pelo vento propício.
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