Sunday, September 29, 2019

Nomads!

I was expecting to arrive in Zurich and see a large community of expats - people far away from home, trying to build a new life in a new country, either longing for return, or happy to consider this their new home - but always feeling some attachment to their original country, striving to keep at least some connections with their "identity".

What I found instead was a large community of nomads - people that don't seem to belong anywhere.

Before 30, many of them have lived in three, four or more countries. Most of their adult life was spent "away", and they don't feel any attachment to "home" anymore.
Frequently the answer to "where are you from?" is met with a "what do you mean?" or "it depends...". Some don't care about voting, and have only a vague interest on what's happening on their original countries, going there once or twice a year - usually for Christmas.
If they eventually change countries again in the future, chances are it won't be to the one where they were born and their family is in - the fact it is "home" isn't factored at all in the decision about "where to live".


I found this deeply disturbing (still do). In my mind, nomads were people that were forced to move - nobody able to choose would want to stay for long in that situation. And there would always be a special attachment to the place where one was born, where most of one's family still reside.
Here, privileged people - a financial and intellectual elite - seem to accept it willingly without any reserve.

This forced me to realize how much my opinions were distorted by a limited world view, based on a particular relation with my family and country. While here, I found several good reasons for not wanting to "go back":

- Broken families
- Weak national identities
- Poverty
- Repressive and/or authoritarian political environments.

Add to this the fact that being away for long weakens ties to the point where people "feel like a foreigner in switzerland, and a tourist in my country": friends move on, family gets used to remoteness, countries change, a mindset of "being away" is created - the result is a sense of not belonging, of not having (and in some cases not needing) roots.


Maybe this rootlessness is positive - they are the true "citizens of the world", able and prepared to live in any place - while I continue to be bound and limited by my locality, which will always pull me to the same place.


Leaving

As I'm buying the first sets of plane tickets, I'm struggling with my emotions.

A seemingly simple question is making me rethink again how wise was my decision:

- Will I be living in Zurich and coming home on the weekends, or will I be living in Lisbon and going to work in Zurich during the week?

Slowly, the question stops being about buying return tickets, and becomes an in-depth analysis of my choices:

- Why am I doing this?
- What is waiting for me on the other side?
- Will I succeed?
- How will this change me?
- How will this change my family?
- Will I ever regret it?
- Is this really a good idea?

While pondering, I try to find the answers in my children's reactions:

The younger is excited with the prospect of change. At 7 years old, he seems either very unconscious or very brave (probably both). For him, we should all go and try it out - to hell the consequences. Having two houses, living in a different country, seeing different things - what an adventure! What's there to lose?

At 9, the older one is afraid of the change - and especially the uncertainty.
Are we all going? When? What are we going to meet? What language will we be talking? What will happen to friends? How is school there? How are people?
She seems to have more to lose (or be more conscious about it).


Since they don't seem to be helping me with my questions, I turn to my wife. She always seems to know better...

She is not sure if she wants all the family to go, but she is pretty sure this is too good of an opportunity for me to waste. If it doesn't work... I can always come back. She will be taking care of things in Portugal. For her, the decision is very simple.

Her certainty about the topic, her willingness and capability to take care of the family while I'm not home gives me the insurance I need to realize that this is a controlled risk and that I can focus on what's coming, instead of worrying (too much) about what I'm leaving behind. I decide to buy return tickets from Zurich.


Looking back to this time almost two years later, there are a few answers that are now clear to me - others are more complicated. It has certainly been worth it, and it has changed me deeply - to prove it, the change in language in which I write my experiences here.

Nowadays I don't have to be afraid about not knowing where is "home" - that has been the main lesson from this adventure. And I now know the right answer to the logistic problem: buy one way tickets - it makes it simpler and cheaper to change plan(e)s at the last minute.

Wednesday, January 2, 2013

Fotografia - ser diferente

Durante a refeição alguém tropeça no copo de plástico pousado em cima da mesa.

Durante a curta queda, o meu inconsciente decide rapidamente se devo ou não amortecer a queda com o pé (decide que não vale a pena).
Entretanto o consciente começa a deambular:

Curioso - ainda tinha tempo de amortecer a queda com o pé. Isto significa que a decisão inconsciente foi tomada em quanto tempo?

Bem - assumindo que a mesa está a um metro e vinte do chão, temos que a aceleração gravítica a dividir por dois, vez o tempo ao quadrado é igual a um ponto dois (desprezando o atrito).

Assumindo dez metros por segundo quadrado para a aceleração, temos que t é igual à raiz quadrada de zero ponto vinte e quatro - aproximadamente meio segundo de queda.

Ainda deveria contabilizar o tempo que o copo demorou a chegar à borda da mesa - sabendo que o copo se moveu uns 30 centímetros sobre a mesa, preciso de saber a velocidade aproximadamente a que o cotovelo se deslocava quando embateu nele. Preciso também de saber aproximadamente a frequência de amostragem do sistema visual. Tenho ainda de calcular o tempo que a perna demoraria a percorrer os 50 centímetros até ao sítio onde o copo caíu - e assim poderia calcular a velocidade de process...


- MIGUEEEEEEEEL! Estas aí?

Ela olha para mim com o ar irónico de quem sabe perfeitamente onde eu estava - e de quem se prepara para me dar um pequeno gozo. No tempo que demoro a voltar à realidade, ela prossegue


- Estavas a ouvir o que eu dizia? Em que é que estavas a pensar?

Como é que vou explicar-lhe que estava com curiosidade de tentar perceber a velocidade de processamento do subconsciente - assim poderia tentar comparar com a velocidade de processamento do consciente... ou de um computador... tantas coisas interessantes - mas como explicar-lhe?
Decido dar a resposta standard, enquanto tento reconstituir o fragmento de conversa que decorreu enquanto me distraía a fazer as contas.

- Não estava a pensar em nada de especial. Estavas a falar de... da tua mãe?

- Da minha mãe? Estiveste quase, mas a minha mãe já foi há uns dez minutos- agora estava a falar da tua. Apanha lá o copo antes que molhe o chão todo.

Enquanto me baixo para apanhar o copo, reparo no padrão que o líquido faz no chão, e lá vou eu outra vez:

Curioso, o padrão que o líquido fez. Que informação é que dará para extrair deste padrão? Será que dá para perceber a altura que o copo caíu? A orientação que tinha quando bateu no chão? Que efeito terá a viscosidade do líquido sobre este padrão? Que percentagem do líquido ainda estará dentro do copo? Qual a distribuição radial? E qual a densidade de líquido em função da distância radial? E se tomar em consideraç....

MIGUEEEEEEL! Onde é que estás outra vez?


Como explicar-lhe?

Friday, November 16, 2012

Pãozinho sem sal

Em 2010 foi introduzida uma lei que limita o teor de sal no pão.


Os principais argumentos que tenho ouvido a favor desta lei são os seguintes (podem haver outros):

1) Argumento categórico: o estado tem o dever de se preocupar e de trabalhar no sentido de melhorar a saúde dos seus cidadãos.
2) Argumento utilitário: o estado gasta muito dinheiro devido a doenças relacionadas com o consumo excessivo de sal e por isso deve trabalhar no sentido de reduzir esses custos.



O argumento utilitário é muito desinteressante - parece-me uma má razão para criar uma lei deste género mais que não seja porque está fundado em "factos" difíceis de comprovar (e porque o argumento utilitário é frequentemente muito pouco humanista).
Para se fazer as contas ao custo para o estado do excesso de sal não basta contabilizar os custos da saúde - seria preciso calcular os custos/ganhos decorrentes das mudanças nos hábitos de consumo devido a pessoas que passam a comer outros produtos. Se calhar em vez de comer pão as pessoas passariam a consumir outros produtos que lhes fariam ainda pior!

Numa objecção mais cínica e nada politicamente correcta, poder-se-ia argumentar (tal como o fez a Philip Morris no infame estudo de 2001) que o facto de as pessoas morrerem mais cedo devido a complicações relacionadas com o excesso de sal pouparia bastante dinheiro em reformas e pensões da segurança social.



Para mim o cerne da questão está no argumento categórico - o estado deve trabalhar activamente para melhorar a saúde dos cidadãos, mesmo que o faça contra a vontade desses mesmos cidadãos?

Responder que sim é defender uma visão de um estado paternalista e moralista, que acha que as pessoas não são capazes de tomar as decisões mais correctas por si próprias. Para este estado, as pessoas não só têm que ser guiadas e ensinadas, como as possibilidade de terem comportamentos "errados" deve ser controlado e proibido - mesmo que apenas afecte as pessoas em causa, sem prejuízo de terceiros.

Na minha visão libertária, o estado está a ultrapassar os seus deveres, privando os cidadãos de uma escolha - que pode ser consciente ou não. Para mim seria bem mais interessante um modelo em que o teor de sal teria que ser indicado ao consumidor (eventualmente com um código de cores, para simplificação).
O carácter repressivo seria assim substituído por uma medida de carácter informativo, o que estaria mais de acordo com uma visão de um estado que ensina e forma, e não de um estado que proíbe e reprime.
Há que dizer que o artigo do público do primeiro link menciona outros países que têm conseguido resultados com base em recomendações e campanhas - o que parece apontar para algum sucesso da aproximação formativa versus repressiva.

Esta lei pode parecer bastante irrelevante e insignificante, mas segundo o próprio artigo do público os seus autores criaram-na com o objectivo de mais tarde alargá-la a outros produtos. A continuar este caminho, mais cedo ou mais tarde há de haver um produto que é proibido e que não é assim tão irrelevante.

E já agora, porquê ficarmo-nos pelo sal? Eventualmente alguém se haverá de lembrar que o tabaco e o álcool fazem mal à saúde - afinal, ideologicamente não existe diferença entre a lei do pãozinho sem sal e a lei seca dos estados unidos. Evidentemente que os impactos de ambas as leis são completamente diferentes, mas o princípio moralista que está por trás é idêntico.

Finalmente, não deixa de ser curioso constatar que aparentemente (segundo o último parágrafo do artigo do público) é mais fácil e barato proibir do que prevenir e informar.



Natalidade e ambiente

A natalidade em Portugal tem estado nos noticiários - aparentemente nunca esteve tão baixa e continua a cair.


Este facto é visto regra geral como algo muito negativo, sendo que um dos principais argumentos apresentados é utilitarista - se a natalidade cai, o estado social não vai aguentar. Vamos começar a ser todos idosos sem ninguém para tomar conta de nós e para trabalhar para pagar as nossas pensões.



Para lá do egoísmo deste argumento (certamente existem outros bem mais aceitáveis), existe nele uma premissa que me preocupa: o argumento parte do princípio de que para manter o estado social é necessário um aumento constante da população.


Um aumento constante da população é algo que me assusta. Nada cresce constantemente ad infinitum: todas as populações acabam por atingir um factor limitativo - espaço, energia, alimentação, etc. Quando este limite é atingido, uma de duas coisas acontecem:

- Uma estabilização suave em torno de um ponto de equilíbrio
- Uma rotura catastrófica de todo o sistema


De acordo com esta visão, a estabilização da população é algo positivo. Tem conotações negativas - envelhecimento da população, problemas sociais, etc, mas é algo que teria sempre que acontecer - mais cedo ou mais tarde teríamos que atingir o limite ambiental - e mais vale que seja antes de ultrapassarmos (demasiadamente) o ponto de equilíbrio.
Que esta estabilização ocorra sem necessidade de introduzir medidas artificiais (tal como aconteceu na China com a infame política do filho único) é um bónus (muito) bem vindo.



Há que dizer que existem vários argumentos contra esta ideia. Existe actualmente um grande debate entre "doomers" (pessoas que acreditam que estamos a atingir/já atingimos limites ambientais que põem em causa a nossa sobrevivência) e "cornucopians" (pessoas que acreditam que ainda estamos longe de atingir o limite ambiental, e que eventualmente este nunca será atingido devido à evolução tecnológica e/ou social).

Coloco-me do lado dos doomers (não, não sou um "survivalist"), embora não partilhe a opinião de muitos que dizem que já ultrapassámos o limite ambiental - não sei onde esse limite se encontra e acredito (tal como os cornucopians) que este limite evolui com a sociedade e tecnologia.


Quanto a questões económicas - este é um daqueles casos em que os nossos desejos e boas intenções esbarram com a dura e crua realidade: a sociedade tem que se adaptar ao meio ambiente, porque o ambiente certamente que não se vai adaptar à sociedade.

Thursday, November 1, 2012

Fazer o que se gosta vs gostar do que se faz

Fazer o que se gosta é hedonismo, mimo, egoísmo.

É pensar naquilo que queremos e não naquilo que devemos, nos direitos e não nas obrigações.
É jantar e não levantar a mesa, comer o chocolate e não deitar fora o papel.
É não se fazer aquilo que não se gosta, deixar para os outros aquilo que não quero para mim.

Fazer o que se gosta é caminhar com os olhos postos no destino, perseguir apaixonadamente um sonho - custe o que custar. É saber aquilo que se quer - os fins justificam os meios.

Quando se faz o que se gosta não interessa o que se faz - interessa o que se gosta.






Gostar do que se faz é dever, honra, orgulho.

É pensar naquilo que é preciso e descobrir aquilo que queremos.
É começar uma tarefa por dever e acabar por prazer.
É dar com sacrifício e descobrir a glória da oferta, ir despejar o lixo e descobrir as estrelas.

É encontrar o rumo durante a caminhada, é ir pelo caminho mais bonito em vez do mais curto - porque o que interessa é a viagem. É deixar que os sonhos nos persigam enquanto nos ocupamos com a realidade.



Quando se gosta do que se faz, nada mais interessa.



Fotografia: dormindo com um desconhecido

Na minha empresa existe uma conferência anual que junta milhares de pessoas de todo o mundo em Seattle. As pessoas ficam hospedadas em hotéis, normalmente em quartos de dois.

Tenho sempre muito cuidado a escolher o meu companheiro de quarto - até ao ano passado, em que ele desistiu à última da hora e a organização me designou aleatoriamente um novo companheiro.



Já estou no quarto quando ele entra. É alto e encorpado. Tem um olhar doce e cansado por trás de uns óculos de aspecto frágil.
Acabou de chegar do Senegal - muitas horas de avião em cima. Traz uma mala de viagem de aspecto normal, e veste de uma forma prática e simples, mas com um leve toque a formal - o tipo de roupa que associo a alguém que gosta de cumprir regras.
Cumprimenta-me num bom inglês, atirando-me a mão enorme com um gesto largo e de sorriso aberto.

Começamos a falar sobre o evento - ele acabou de entrar na empresa e nunca participou em nenhum. Depois de lhe explicar a dinâmica da conferência e de lhe dar alguns conselhos, a conversa evolui suavemente para outros tópicos. Falamos dos americanos, dos europeus e dos africanos. Ele começa a fechar os olhos durante a conversa e decido poupá-lo. Ele insiste em tentar conversar - nota-se que é educado - mas o sono está a levar-lhe a melhor e acaba por desistir.
Quando já não aguenta mais levanta-se, vai à casa de banho, volta, pergunta-me para que lado fica o mar, pega num tapete e ajoelha-se no chão a orar. Depois vai deitar-se e adormece.


Nos dias seguintes começa a ficar mais à vontade. Certa amanhã acordo com o resmonear das suas orações. Fico na cama a tentar perceber o que diz, evidentemente sem sucesso.


Numa das noites consigo que a conversa vá para onde quero - a religião.
Ele conta-me alegremente como funciona a religião no Senegal.
Fala-me das diferenças entre o islamismo africano e do médio-oriente. Fala-me do carácter tolerante da religião africana. Conta-me como funcionam as datas religiosas, como é que são vividas pelas pessoas. Como é que cada um segue a religião e como é que cada um a contorna e ajusta ás suas necessidades.
Mostra-me o tapete que usa para orar, explica-me a finalidade das abluções e mostra-me a app que tem no telefone para descobrir Meca .


A certa altura fala-me das mulheres. Diz-me que sai caro casar com mais que uma. Existem regras a seguir - todas as mulheres têm que ser tratadas da mesma forma pelo marido. O homem tem que dormir o mesmo número de noites com cada mulher, e se der uma prenda a uma tem que dar prendas equivalentes às outras. Conta-me que a poligamia não é muito frequente - sobretudo num país pobre como o Senegal.
Pergunta-me o que acho. Respondo-lhe cuidadosamente que não sou contra a poligamia, desde que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens. Ele faz uma cara de surpresa, solta um pequeno uivo e diz-me que há algumas pessoas no país dele que pensam como eu. Di-lo com um ar que eu classificaria de cuidadoso e educado choque. Imagino-o a imaginar uma mulher a casar com vários homens e percebo o uivo.

Aparentemente a minha observação não foi mal recebida, porque a conversa continua. Pergunta-me como é comigo no meu país. Explico-lhe que represento uma minoria agnóstica num país maioritariamente pseudo-cristão - e ele mostra-se mais interessado no cristianismo do que no agnosticismo.

Certo dia enfurece-se ao telefone enquanto fala com a mulher. Ele conta-me que o presidente/rei do Senegal está a tentar mudar a constituição para se poder reeleger após ter cumprido todos os mandatos permitidos constitucionalmente. Fala-me do presidente/rei do país dele com alguma raiva e medo - teme uma guerra civil e arrepende-se de não ter emigrado para Inglaterra. Ele até queria, mas a mulher não estava para aí virada.

Penso no meu próprio país, e nos tiranetes que por cá temos que também mudam constituições com fins eleitoralistas. Penso no que faria se o meu país fosse pelo caminho que ele descreve e constato
que independentemente da língua, religião, cor da pele ou continente onde vivemos, todos temos os mesmos medos e desejos.

No final, mais do que as sessões que assisti ou do tempo que passei com os meus amigos e colegas, lembro-me com algum prazer das conversas que tive com ele. Gostei tanto da experiência que tenciono passar a não escolher o meu companheiro de quarto nos eventos futuros. Só espero continuar a ter sorte com os próximos sorteios.