Tuesday, October 30, 2007

Chumbos por faltas vão deixar de existir

Recentemente li uma notícia interessante (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1308806).

Aparentemente o governo quer acabar com o chumbo por faltas - alunos que faltem demais passam a fazer provas especiais para poderem recuperar o ano.
A oposição atirou-se ás paredes porque para eles isto significa que a assiduidade não é premiada, e afirmando que existe uma desresponsabilização por parte do governo - sendo que para a oposição esta medida se destina apenas a camuflar o problema do abandono dos estudos.

Comecei por pensar: "quem é que ganha com esta nova situação?". Aparentemente, os alunos que faltam muito. E quem é que falta muito? bem, suponho que sejam ou os cábulas genuínos, ou aqueles que tiveram um azar qualquer (ficaram doentes, mudaram de casa a meio do ano escolar, etc.).
E quem é que perde com esta nova situação? No pior dos casos, perdem (em comparação) os alunos assíduos, que aparentemente não ganham nada face aos cábulas, que ganham o direito de faltar desde que prestem provas de que são capazes de passar.

(decidi deixar deliberadamente o governo e a oposição fora destas listas de perdedores/ganhadores, porque sinceramente não acho que as leis devam ser feitas a pensar no ganhos ou perdas dos partidos políticos).

Assim sendo, vejo-me numa situação em que na realidade há algumas pessoas (na realidade, as mais necessitadas de ajuda) que ganham muito e muitas pessoas que perdem muito pouco (na minha opinião não perdem mesmo nada - afinal, ganham o direito de não terem que fazer uma prova adicional). No processo até existem pessoas que faltam por razões legítimas (inocentes) e que ganham muito face ao estado actual. Eventualmente algumas pessoas acham que perdemos todos por questões ideológicas - que estamos a legitimizar o abandono escolar e a impedir a avaliação contínua de funcionar, mas não sou pessoa para pôr a ideologia à frente do pragmatismo.

Na minha óptica, a escola serve para um aluno aprender. Se pelo facto de ele faltar muito o obrigarmos a prestar provas adicionais - e ele mostrar que consegue passá-las, porque é que havemos de o prejudicar? Não me parece que um cábula com falta de vontade consiga passar uma prova depois de faltar o ano inteiro, mas um aluno necessitado que até estudou apesar de não estar na escola pode muito bem consegui-lo. Mais que isso, um cábula pode ao menos arrepender-se a meio e tentar emendar a mão a tempo.

Os amigos que ficam e os amigos que vão

Por vezes confronto-me com situações em que amigos meus - pessoas chegadas ou que foram importantes durante um período da minha vida - se começam a afastar. Normalmente isto acontece por razões naturais - as pessoas transformam-se, seguem caminhos diferentes, mudam de emprego, de casa ou de namorada.

Normalmente custa-me um bocado ver isto a acontecer. Hoje em dia habituei-me a ver isto como uma parte natural da vida, e aprendi a não lutar demasiado para o evitar.

Não quer isto dizer que não tente - normalmente, quando me começo a aperceber de que isto está a acontecer, tento reaproximar-me da pessoa - começo a convidá-la para mais eventos, a enviar mais mails, a tentar apanhá-la no messenger para conversar um pouco. Muitas vezes isto não é suficiente - e sobretudo se não houver um esforço idêntico do outro lado, acabo por desistir e deixar ir.Dependendo da pessoa e do tipo de relação, por vezes acabo por ficar com um amigo que vejo menos vezes - o que significa que me continuo a esforçar por manter um contacto mínimo, mas outras acabo por dar essa pessoa como perdida e desisto de vez.

Custa - sobretudo quando são pessoas a quem dou muito valor, ou por quem tento ainda durante muito tempo ou com muita força manter o contacto sem no entanto ver um esforço idêntico, mas hoje em dia acho que é importante ser capaz de perceber que por vezes é necessário - uma relação de amizade tem que fluir nas duas direcções e por vezes é melhor uma relação naturalmente adormecida do que uma artificialmente acordada.

Monday, October 22, 2007

A força da esperança (ou da auto-ilusão)

A ciência tem histórias que a própria ciência não consegue explicar.

Em 1977 foi lançada a primeira de duas sondas muito famosas (desde então já entraram em filmes, livros e jogos de computador) - as voyager.

Estas sondas destinavam-se sobretudo a estudar os gigantes gasosos do sistema solar. Após a passagem por estes planetas, as sondas supostamente deveriam continuar a sua trajéctoria até sairem do sistema solar - e continuar então a estudar o meio interestelar, onde se presume que não exista praticamente nada.

A particularidade mais interessante (pelo menos para mim) destas sondas não são os espectómetros de ultra-violeta, ou a tecnologia utilizada para as construir. A particularidade mais interessante e que diz mais sobre a espécie que as construíu é um pequeno disco de cobre revestido a ouro que cada uma destas sondas leva consigo.
Estes discos possuem vários sons terrestres - desde o som de pássaros, o som do mar, saudações em várias línguas e ainda música clássica - tudo para o caso de algum extraterrestre eventualmente encontrar a sonda no meio dos imensos anos-luz interestelares.

O que é interessante é: porque é que este disco foi posto numa sonda cuja missão é perder-se no meio do nada inter-estelar? É preciso dizer que cada grama que vai numa destas sondas é cuidadosamente analisada e sopesada, de forma a minimizar o peso e consequentemente a energia necessária para impulsionar a nave. Para qualquer cientista digno desse nome, este disco representa sobretudo um enorme desperdício de energia e recursos. Ainda por cima para transportar informação que ninguém sabe se o eventual extra-terrestre iria compreender (gostar?) - afinal, ele poderia estar mais numa onda de jazz...

Seja como for os discos foram nas duas sondas, o que me leva a perceber que muitas vezes não fazemos as coisas que devemos, mas as que queremos - e que muitas vezes interessa mais o tentar do que o conseguir.

É interessante pensar no que nós faríamos se encontrássemos uma sonda perdida no meio do espaço enviada por outra civilização. Será que precisaríamos de um disco de ouro com sons para ficarmos interessados na descoberta?
Por outro lado será que não preferiríamos a fórmula do campo unificado ou as coordenadas do paraíso?

Seja como for, parece que estes tempos da ciência romântica já passaram. Hoje em dia ninguém pagaria os dolares necessários para enviar nem um micro-chip com a enciclopédia britância inteira numa sonda...

Thursday, October 11, 2007

Envelhecer com a M80

Não sou um grande fã de radio - sou mais do género de gostar de controlar a música que ouço do que deixar outros escolherem-na por mim.

Existe no entanto uma radio que gosto particularmente de ouvir quando me farto dos CD's que trago no carro - a M80.Para quem não sabe (hereges!), a M80 passa exclusivamente música dos anos 70,80 e 90 - e apesar de não possuir locutores mega conhecidos, considero-os aceitáveis e mais ou menos "sintonizados" com o objectivo da radio.


Tendo em conta que: não me costumam doer as pernas nem as costas, tenho uma óptima visão, consigo fazer exercício físico violento durante bastante tempo sem me cansar demasiado - sinto-me normalmente enérgico e forte. Ideologicamente não me sinto ultrapassado ou sequer antiquado (apesar de sempre me ter considerado um "clássico").

No entanto, apesar de não me sentir velho fisicamente ou psicologicamente, quando descubro que ainda sei de cor a letra de uma música que esteve nos tops há 20 (ou 30!) anos atrás fico a pensar se isto não será o princípio do "ficar velho". De repente começo à procura de outros sinais:

- Realmente não gosto lá muito da música que se ouve hoje em dia...

- E o que dizer dos hábitos da juventude - nocivos e entediantes no mínimo, provavelmente mesmo perigosos e escandalosos!

- E em relação aos jogos de computador? Certamente já não se fazem como no "meu" tempo!

- A televisão é uma desgraça - só passam porcarias!

- Os jornais já não são o que eram - só passam mexericos e trivialidades. E o que dizer dos jornais que são distribuídos de graça? Uma modernice sem sentido!


É assim que começo a pensar que se calhar já começo a não fazer parte do "futuro". Começo a pensar que na melhor das hipóteses eu sou o "presente", um pouco a tender para o "passado"...