Monday, October 22, 2007

A força da esperança (ou da auto-ilusão)

A ciência tem histórias que a própria ciência não consegue explicar.

Em 1977 foi lançada a primeira de duas sondas muito famosas (desde então já entraram em filmes, livros e jogos de computador) - as voyager.

Estas sondas destinavam-se sobretudo a estudar os gigantes gasosos do sistema solar. Após a passagem por estes planetas, as sondas supostamente deveriam continuar a sua trajéctoria até sairem do sistema solar - e continuar então a estudar o meio interestelar, onde se presume que não exista praticamente nada.

A particularidade mais interessante (pelo menos para mim) destas sondas não são os espectómetros de ultra-violeta, ou a tecnologia utilizada para as construir. A particularidade mais interessante e que diz mais sobre a espécie que as construíu é um pequeno disco de cobre revestido a ouro que cada uma destas sondas leva consigo.
Estes discos possuem vários sons terrestres - desde o som de pássaros, o som do mar, saudações em várias línguas e ainda música clássica - tudo para o caso de algum extraterrestre eventualmente encontrar a sonda no meio dos imensos anos-luz interestelares.

O que é interessante é: porque é que este disco foi posto numa sonda cuja missão é perder-se no meio do nada inter-estelar? É preciso dizer que cada grama que vai numa destas sondas é cuidadosamente analisada e sopesada, de forma a minimizar o peso e consequentemente a energia necessária para impulsionar a nave. Para qualquer cientista digno desse nome, este disco representa sobretudo um enorme desperdício de energia e recursos. Ainda por cima para transportar informação que ninguém sabe se o eventual extra-terrestre iria compreender (gostar?) - afinal, ele poderia estar mais numa onda de jazz...

Seja como for os discos foram nas duas sondas, o que me leva a perceber que muitas vezes não fazemos as coisas que devemos, mas as que queremos - e que muitas vezes interessa mais o tentar do que o conseguir.

É interessante pensar no que nós faríamos se encontrássemos uma sonda perdida no meio do espaço enviada por outra civilização. Será que precisaríamos de um disco de ouro com sons para ficarmos interessados na descoberta?
Por outro lado será que não preferiríamos a fórmula do campo unificado ou as coordenadas do paraíso?

Seja como for, parece que estes tempos da ciência romântica já passaram. Hoje em dia ninguém pagaria os dolares necessários para enviar nem um micro-chip com a enciclopédia britância inteira numa sonda...

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