Monday, April 16, 2007

As prendas da minha vida (1)

Acredito sinceramente que todos os factos, tudo o que fazemos, todas as pequenas coisas têm uma razão de ser - que é quem como quem diz uma história por trás. Já encontrei muita gente que tenta contrariar-me esta maneira de pensar - que afirma que por vezes acontecem coisas puramente por acaso e sem história. Se calhar têm razão, mas acho uma ideia tão triste e limitativa que prefiro nem pensar que possa ser verdade.
Gosto muito de ouvir e de contar estas pequenas histórias e já vai sendo altura de contar algumas por aqui.

Há algum tempo atrás recebi uma prenda que gostei particularmente de receber - gostei porque não estava à espera, porque era algo que eu gostei de receber/usar e pela forma original como me foi oferecida. Comecei então a pensar um pouco na minha posição sobre as prendas:

Por princípio não gosto de receber ou de oferecer prendas pelos anos ou pelo natal - embora goste de oferecer coisas que sei que as pessoas precisam/querem. Curiosamente, apesar de esta aversão natural sei precisamente quais são as prendas que mais gostei de dar e receber, bem como as que gostei menos.


Tinha eu uns 12 ou 13 anos e estava a passar uma noite de natal aparentemente normal na companhia da minha família mais próxima. Hoje é fácil olhar para trás e perceber a ansiedade reinante por toda a casa, mas na altura essa diferença estava a passar-me completamente ao lado. De repente, pelas 22 horas tocam à porta. Achei bastante estranho tocarem à porta àquela hora - e não percebi logo que a minha mãe e a minha avó correram rapidamente para a porta enquanto me enxotavam para outro lado. Enquanto passava - curioso - pela porta em direcção ao meu quarto consegui vislumbrar alguns homens a carregarem penosamente um grande volume negro pelas escadas acima.
Pouco depois o piano estava na sala. Os pobres carregadores suavam estafados (mais tarde contaram-me que eles juraram nunca mais fazer uma entrega daquelas - sobretudo na noite de natal). Ainda hoje estou para saber como é que a minha avó conseguiu convencê-los a fazerem aquilo naquela noite.Apesar de cheio de vontade de passar os dedos pelas teclas acho que não fui capaz de tocar naquela noite, apesar dos pedidos insistentes de toda a família.

Por acaso e uma coisa de que me arrependo: arrependo-me por tantas vezes não ter tocado quando a minha avó me pediu...

No comments: