Acho que umas das perguntas que mais dizem sobre uma pessoa é esta: afinal, o que é que queres levar da vida? Quais são os teus objectivos e linhas condutoras?
Por vezes faço a esta pergunta aos meus amigos. Normalmente não a faço abertamente - acho que é uma pergunta algo intimidatória e se a fizer de uma forma demasiadamente frontal arrisco-me a ter uma resposta tendenciosa, medrosa ou simplesmente politicamente correcta.
Não me lembro de ma terem feito, o que é uma pena (aliás, regra geral acho que as pessoas me fazem poucas perguntas, mas isso já é outro tópico) - embora talvez me façam a mim o mesmo que faço aos outros e me façam a pergunta indirectamente, o que não deixaria de ser justo.
Ao longo da minha vida lembro-me de ter evoluído a resposta a esta pergunta. Partes da resposta mantiveram-se, outra partes mudaram bastante. Algumas ficaram mais concretas, outras mais vagas. Acredito que no futuro ainda venham a mudar ou a evoluir mais vezes.
Hoje em dia existem essencialmente quatro coisas que eu tento considerar como os objectivos fundamentais a cumprir ou como linhas condutoras para me guiarem:
1) Aprender
Lembro-me perfeitamente de na minha adolescência já pensar que este é (ou deve ser) um dos principais objectivos a perseguir. Felizmente vivo numa época privilegiada, em que o acesso à informação (e também à desinformação) está muito facilitado.Não há muitas coisas me dêm mais gozo do que aprender, e tento sempre encontrar uma componente de aprendizagem em tudo o que faço. Reciprocamente, considero que ensinar os outros é uma tarefa particularmente nobre e tenho muito respeito por um bom professor (e muito má opinião de um mau).
2) Melhorar
Quando tive contacto com a filosofia budista apercebi-me da beleza subjacente a pensar que cada vida é um passo para o nirvana - e que o objectivo final de cada encarnação é essencialmente (tentar) dar mais um pequeno passo para a perfeição. Mesmo que não hajam outras encarnações, espero no final olhar para trás e pensar que ao menos consegui melhorar-me ao longo desta.Conheço alguns dos meus defeitos e esforço-me por os ultrapassar. Nem sempre consigo e duvido muito vir a morrer imaculado, mas existe um esforço consciente de identificar e ultrapassar as limitações - por pequenas que sejam. É por esta razão que dou tanta importância a que me digam o que pensam e em que é que posso melhorar - e por isso é que considero um acto de amizade e particularmente importante informar os outros sobre aquilo que considero poder ser melhorado.
3) Respeitar os outros
Houve uma altura em que eu pensava que o importante era "ajudar" em vez de "respeitar". Hoje sou mais modesto neste objectivo - basicamente acho que nem sempre é possível (e por vezes sequer acertado) ajudar, mas que é sempre possível respeitar. Hoje em dia considero o "ajudar" como um nice to have, mas acredito que é algo que ainda pode vir a mudar em mim ao longo da vida. O mais importante neste ponto é o seguinte: nunca tentar cumprir um dos outros objectivos à custa deste.
4) Experimentar e aproveitar a vida
É que a verdade é que não sei se vou ter oportunidade de por aqui andar outra vez - e não queria chegar ao fim a pensar que há coisas importantes que nunca hei-de fazer.Considero este ponto extremamente importante para pôr em perspectiva as "obrigações". Acho que existem muitas pessoas que não dão a devida importância a este ponto - pessoas que desperdiçam a vida sem perceber que a única coisa que realmente tem valor é o tempo que perdem. Entristece-me um pouco ver pessoas a fazê-lo, mas é precisamente o tipo de situações em que acho que devo respeitar os outros e não ajudá-los a todo o custo - afinal, nem toda a gente tem os mesmos objectivos que eu.
Consigo imaginar algumas pessoas a dizerem que estou a fazer batota, que nestes pontos posso acrescentar os objectivos concretos que eu quiser.A verdade é que nunca procurei glória, fama ou riqueza. Se calhar devido a não me faltar nada em termos materiais, posso ter outros objectivos de vida - se calhar se eu passasse fome tudo o que queria da vida seria um belo jantar.Bem - a verdade é que não passo fome, e que já tenho toda a glória fama e riqueza que considero precisar. Considero-me um afortunado (a minha mãe costuma dizer-me que "nasci com o cú virado para a lua") a quem não falta nada a não ser ambição em demasia - até nisso tive sorte!
Por outro lado duvido que algum dia venha a saber tudo ou a ser perfeito, pelo que sei que estes objectivos não são algo de efémero e ultrapassável. Por outro lado, o facto de possuir objectivos tão bem traçados (e pensados) ajuda-me a moldar o meu comportamento e a tomar decisões importantes que acho que seriam muito mais complicadas de tomar caso não possuísse esta linha condutora.
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