(continuação do post anterior)
No final, a decisão sobre se ofereço ou não provém de uma mistura destas quatro factores (princípios, compaixão, pragmatismo e egoísmo). Depende muito do meu estado de espírito e da forma como sou abordado. Depende sobretudo da imagem que eu faço da pessoa na altura.
Lembro-me de uma vez que fui abordado perto de uma estação de comboio por uma pessoa que me pediu 5 euros para o comboio. Era um homem adulto aparentemente são, que invocou razões de ordem contextual (tinha perdido a carteira, ou qualquer coisa do género) para não ter dinheiro para ir para casa.
Eu já estava dentro do carro a sair do estacionamento, mas mesmo assim voltei a estacionar o carro e fui com essa pessoa ao multibanco levantar dinheiro para lho dar (eu tinha apenas 20 euros na carteira, que ele não me pediu quando lho disse - e que muito provavelmente eu não ofereceria).
Fi-lo porque a história (e a postura) dele me convenceu. Porque me consegui imaginar numa situação semelhante e sobretudo porque eu tinha tempo para o fazer.
O que eu fiz foi imaginar-me no lugar dele (ou em que ele afirmava estar) e imaginei o que é que eu pensaria e diria naquela situação - e o discurso dele estava perturbadoramente perto do discurso que eu imaginei para mim próprio naqueles segundos.
No final, quando lhe dei o dinheiro ele pôs-me as duas mãos na cara e agradeceu-me.
Possivelmente a história era forjada, possivelmente dei dinheiro a um preguiçoso ou intrujão. Possivelmente corri o risco de ser assaltado pelas costas enquanto ia ao multibanco ajudar alguém que não conheço.
Tudo isto me passou pela cabeça naquela altura, mas o que me fez mover foi: "e se isto me acontecesse a mim, o que é que eu faria? O que é que eu acharia da pessoa que estivesse no meu lugar?". O que é um facto é que se fosse no dia seguinte em que eu estivesse com mais pressa ou com menos paciência possivelmente não lhe teria dado nada.
Recentemente aconteceu-me uma situação curiosa: na rua com um grupo de amigos fomos confrontados por uma pessoa que nos pediu dinheiro para uma causa (supostamente meritória e fidedigna). Na altura eu hesitei - se estivesse sozinho a minha resposta teria sido provavelmente um não. Todas as pessoas ficaram suspensas durante uns momentos, até que uma delas decidiu oferecer o dinheiro pedido - logo de seguida se gerou um movimento de grupo em que a maioria das pessoas decidiu oferecer.
Duas das pessoas decidiram não oferecer (foram mais fortes e consistentes que eu, que acabei por ceder à pressão de grupo). No final uma delas sentiu a necessidade de explicar porque é que não tinha oferecido (ou pelo menos esta foi a minha interpretação daquilo que ele disse).
Na realidade acho que qualquer das pessoas que não ofereceu acabou por agir melhor que eu. Por vezes gostaria de ter a coragem de o fazer.
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2 comments:
Depende da perspectiva com que entregas a oferta. Eu não estaria a ouvir nada do que a pessoa dizia e vendia, simplesmente decidiria na base da minha vontade de oferecer ou não a quantia em causa. Prefiro premiar o esforço de alguém que se dá a algum trabalho para justificar o que pede. Mas em ultima análise, não aplico uma regra. Depende da minha avaliação do carácter do interlocutor nos poucos segundos que tenho... até uma boa forma de treino para coisas com impactos bem maiores na nossa vida..
Então a única coisa que usas para decidir se ofereces ou não tem a ver com a avaliação daquela pessoa que fazes no momento? Tem apenas a ver com o carácter de quem pede?
Assim analisando a frio, achas que deverias oferecer mais ou menos vezes que aquelas que ofereces?
miguelb
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