As pessoas que me conhecem melhor provavelmente estranharão o facto de eu ter querido pintar a minha casa. É algo que eu não gosto de fazer - nunca gostei nem tive muito jeito para trabalhos manuais. Quando morava com a minha mãe e haviam obras, fugia delas tão depressa e para tão longe quanto possível (as más línguas dirão que a última vez que a minha casa foi pintada eu fugi para o Nepal).
Provavelmente pensarão que não foi uma decisão só minha - e têm razão - mas a realidade é que o meu voto foi precisamente no sentido de não pagar a alguém para o fazer por mim.
Quando fui viver sozinho, optei propositadamente por passar alguns meses sem empregada, de forma a poder aprender e melhor apreciar o quanto custa fazer as coisas nós próprias - quanto trabalho dá limpar, lavar, tomar conta de uma casa. Hoje acho que fiz bem em escolher fazê-lo e aconselharia a qualquer outro na mesma situação.
Desta vez foi algo de semelhante - eu quis participar de alguma forma no processo de "criação" da casa para onde tenciono ir morar durante algum tempo. É uma forma de valorizar o trabalho ali investido e de me sentir parte (e merecedor) da própria casa. Acho importante que as pessoas se envolvam desta forma nas coisas que fazem parte das suas vidas - mesmo que apenas simbolicamente. Acho que acabamos por valorizar e dar mais atenção ao que nos rodeia quando participamos na sua criação com o nosso suor e não apenas com o dinheiro.
Da mesma forma aceitei a ajuda que alguns amigos ofereceram. Como não gosto da tarefa - acho que é algo que dá trabalho, é sujo e desconfortável e muitas pessoas não gostam de fazer - tentei não pedir explicitamente a ajuda de ninguém, mas antes aceitar alegremente quando ma ofereceram (houve inclusive pessoas que se ofereceram, mas que por uma razão ou outra - normalmente logística - acabei por não poder aceitar). Sempre admirei aqueles filmes em que a comunidade se junta espontaneamente para ajudar um membro a desempenhar uma tarefa - acho que é um acto de oferta com muito valor.
Reciprocamente gosto quando os meus amigos me pedem esse tipo de ajuda. Sinto-me elogiado por me considerarem próximo o suficiente para que estejam à vontade para me pedir ajuda. Ainda mais valor atribuí quando uma das pessoas me confessou (não para minha surpresa) que não teria pintado a casa dele, mas que me ajudou a pintar a minha.
No final fiquei satisfeito com o resultado e mais uma vez - apesar de andar com dores pelo corpo, cansado, e ter gasto mais de dois fins de semana com esta tarefa - não acho que me venha a arrepender de ter votado para que fosse desta maneira.
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