Recentemente fui jantar ao bairro alto. Ao contrário do que costuma acontecer tive a felicidade de chegar lá ainda de dia e o que vi surpreendeu-me.
Depois de tantos anos a frequentar esporadicamente o bairro alto (há que dizer que não é um dos meus sítios preferidos) só agora é que descobri que desde o rato, passando pelo príncipe real até ao largo do carmo existem uma série de árvores que acho francamente belas - nomeadamente Jacarandas.
Há que dizer que a Jacaranda foi uma árvore que me fascinou numa viagem que fiz a áfrica. É uma árvore que tem umas flores violeta, que em certas alturas do ano caem aos magotes. Estas flores são pesadas o suficiente para não serem facilmente levadas pelo vento, pelo que ficam espalhadas no chão à volta da árvore - são também em quantidade suficiente para formarem um tapete circular quase perfeito à volta do tronco e a sua cor é tão forte que normalmente sobressai facilmente face ao solo. O contraste entre o chão violeta e os ramos semi-despidos ainda com braçadas violetas fazem com que dê uma cor vibrante a toda a área em que se encontram.
Fiquei tão contente pela minha descoberta que decidi dar um passeio pelo bairro alto a seguir ao jantar. Infelizmente já andavam a lavar a rua, e por isso já se viam menos folhas no chão - seja como for os carros estacionados debaixo das árvores ainda estavam carregados de flores e ainda se viam vestígios pelos passeios a provar que as flores lá tinham estado - a falta de luz também fez o efeito esmorecer um pouco (tenho que lá voltar de dia).
Entretanto passeei um pouco pelo jardim do príncipe real. Fiquei simultaneamente contente ao aperceber-me que o jardim tem uma série de árvores exóticas (ou pelo menos não nativas) impressionantes, e triste por perceber que de todas as vezes que tinha passado por lá nunca realmente tinha olhado com atenção para o que lá havia.
Sempre que isto me acontece fico a pensar na quantidade de coisas importantes e/ou interessantes que me escapam no dia-a-dia e como devo ser cego em algumas situações - é normalmente suficiente para uma forte e surda auto-reprimenda, mas o que é um facto é que por vezes parece que simplesmente não tenho tempo para olhar e apreender o que se passa à minha volta (o que vai claramente contra alguns dos meus princípios de vida mais fundamentais).
A surpresa maior foi o largo do carmo. De repente vi o largo como nunca tinha visto - completamente populado de tílias e jacarandas que só me pareciam terem nascido e crescido desde a última vez que lá fui - como é que é possível que nunca me tivesse apercebido? O chão e as mesas das esplanadas estavam completamente sarapintadas de violeta e havia um cheiro inebriante no ar... Nem me apetecia sair de lá! Os restantes traseuntes deviam estar a estranhar ver à 1h30m da manhã uma figura a deambular sem direcção a olhar para o ar e a cheirar - por outro lado é o bairro alto, pelo que provavelmente acharam que eu era apenas mais um excêntrico.
Outra coisa curiosa foi a reacção das pessoas que estavam comigo quando disse que ia passear só para olhar para as árvores. Suponho que os meus amigos não estavam a imaginar-me a caminhar pelo bairro alto depois da meia noite só para ver e cheirar árvores... Pelos vistos nunca me viram a escolher o caminho mais bonito (em vez do mais rápido) para ir para o emprego - ou se calhar nunca pensaram que por vezes faço mil quilometros só para poder ver o Gerês durante um fim de semana.
Acho que não fui muito bem sucedido na minha tentativa de lhes explicar as minhas motivações. Pode ser que este post ajude...
1 comment:
Entendo o que dizes.
Experimenta descer a Av.da India por estas alturas (ao fim da tarde).
É uma imagem que não me canso de ver...
Sofia
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