Friday, June 22, 2007

A minha (falta de) ambição

Recentemente aconteceram uma série de alterações na estrutura da empresa onde eu trabalho. Como seria de esperar, houve uma grande dança das cadeiras, com a inevitável febre para se perceber quem é que ia para onde. Como em todas as grandes reorganizações, houve pessoas que subiram de poleiro, outras que desceram (pelo menos em termos comparativos), outras que ficaram exactamente na mesma e finalmente aquelas que ninguém percebeu se subiram ou se desceram (nem elas próprias).

O que acho interessante nisto tudo é a forma como as pessoas reagem, e a comparação que faço com a minha própria reacção.

Bem - eu já escrevi aqui há algum tempo atrás sobre a ambição dos outros e sobre os meus objectivos pessoais. De forma a não me repetir aqui - e porque penso que no fundo esta situação está relacionada essencialmente com ambição e objectivos pessoais - desta vez vou escrever da minha (falta de) ambição.

Confesso que por vezes me preocupa aperceber-me que a minha ambição em termos de carreira parece ser um pouco ..... diminuta..... quando comparada com a maior parte das pessoas com quem trabalho. Nestas alturas fico a pensar se não haverá nada de errado comigo - será que a falta de ambição não pode vir a ser um problema? Será que é um comportamento normal, ou devo considerar doentio? Será que devia tentar mudar?

Realmente, quando penso nisso consigo imaginar-me daqui a alguns anos ainda a gostar do que faço hoje (o que me parece bom). Em simultâneo imagino-me como aquela pessoa mais velha que foi ficando no mesmo sítio porque nunca teve vontade de mudar, enquanto todos os outros seguiram em frente - o que já não me parece tão positivo.

(Este último parágrafo fez-me lembrar da seguinte história da minha infância:

Eu entrei para a pré-primária um ano mais cedo. Fui fazendo uma série de amigos durante o tempo que lá passei, até que no início do ano escolar em que eu tinha 5 anos cheguei à escola e apercebi-me que a maior parte dos meus melhores amigos não estavam lá. Eles eram um ano mais velhos e portanto tinham passado para a primeira classe, que era noutra zona do edifício - enquanto que eu era suposto ficar no mesmo sítio por mais um ano.

O recreio da pré-primária era paredes meias com o recreio da primária, separado por uma grade - e eu lembro-me perfeitamente de nesse dia estar agarrado à grade a olhar tristemente para o recreio da primária onde estavam os meus amigos todos, a pensar que aquilo não estava certo. Segundo reza a história (confesso que não me lembro bem desta parte), quando voltei do recreio peguei nas minhas coisas e caminhei com segurança e de livre vontade para a zona da escola onde eram dadas as aulas da primeira classe. Entrei pela sala de aula dentro, sentei-me e anunciei em voz alta para toda a gente ouvir que ficava ali - o que acabou por acontecer.

)

Esta história - e as conversas que tenho com pessoas mais ambiciosas que eu - fazem-me pensar que por vezes faço coisas por razões que de alguma forma parecem ser diferentes das razões que motivam as outras pessoas - o que inevitavelmente me leva a pensar se estarei errado, ou a ajuizar mal alguma coisa. Será que daqui a 10 ou 20 anos me vou arrepender de não me ter preocupado mais com a minha carreira? Será que estou a ser imediatista? Ou pouco responsável? Ou (ainda pior) desinteressado?

Por outro lado, parece-me notar em mim em algumas situações uma serenidade e despreocupação que acho que não teria se estivesse preocupado com ambições de futuro ou de carreira. É um facto que sinto que consigo apreciar o trabalho que faço hoje em dia de uma forma mais salutar do que se pensasse que o que faço agora é apenas um degrau para chegar a algum outro lado.

A minha conclusão é a de que sou uma pessoa que não tenta olhar demasiadamente longe no horizonte para saber para onde vai - vou-me preocupando em dar um passo de cada vez e (tentar) ver bem onde é que tenho os pés. Isto ajuda-me a não tropeçar e a aproveitar melhor a viagem, mas pode-me levar para becos sem saída. Suponho que estou simplesmente demasiado entretido com a caminhada para me preocupar com a direcção - algo que se calhar não é muito adulto nem responsável, mas que me permite maximizar o gozo que tiro do dia-a-dia. Não sei se isto faz de mim uma pessoa infantil ou irresponsável - acho que mesmo que faça, não quero saber.

Já agora, é curioso pensar nas consequências de uma decisão destas: se eu não tivesse decidido ir um ano mais cedo para a primeira classe, não teria conhecido NENHUM dos meus amigos da primária, secundária e universidade - e posso dizer que houveram pessoas que me influenciaram mesmo MUITO. É assombroso pensar o quanto a minha vida actual seria diferente se eu não tivesse tomado aquela decisão naquele dia... E tudo porque os recreios eram separados!

2 comments:

Anonymous said...

Se ambicionas dar um passo de cada vez e gozar a vida a cada momento sem olhar para o que lá vem, eu diria que és ambicioso com os objectivos que queres para a tua vida. Eu não lhe chamaria falta de ambição. Preocupa-me sim quem não tem vontade e não sabe o que quer. Se te sentes realizado pessoal ou profissionalmente ao avaliares a satisfação que tens ao satisfazeres essaa tua ambição, então estás no TEU caminho certo.

Anonymous said...

Oops... o ultimo comment é meu. Luis