Sempre fui daquelas pessoas que têm amigos muito diferentes entre si. Tanto me dava com os "geeks" (sempre tive uma certa afinidade com esse grupo) como com os "cools". Com os filhos dos professores e com os mal comportados - com os ricos e os pobres. Um dos meus melhores amigos no secundário desistiu da escola no nono ano porque os pais não tinham meios para o manter lá - outros não perdiam nenhuma festa porque podiam pagar discotecas e bares todas as noites.
Uma consequência de ter um leque de amigos tão diferentes entre si é que frequentemente eles se davam mal uns com os outros. De vez em quando via-me envolvido no meio de conflitos - por vezes autênticas guerras - entre pessoas com quem me dava bem. Suponho que já toda a gente passou por isto - possivelmente nem tem nada a ver com o facto de ter um grupo de pessoas muito diferentes, e os conflitos acontecem sempre e em qualquer parte.
O facto é que estes momentos são frequentemente desagradáveis e desnorteantes para quem vê a luta a acontecer e se sente nos dois lados: como agir, como escolher? Devo tomar posição por um dos lados? Devo manter-me neutro? Devo sequer participar? Devo tentar influenciar o resultado? Devo tentar arbitrar para ajudar a resolver, ou devo afastar-me para não me ver envolvido na confusão?
O momento em que tive mais problemas em relação a esta questão foi quando os meus pais se separaram. Nessa altura foi particularmente doloroso tentar decidir como agir e penso que foi nesta altura que formei a minha posição actual sobre o assunto.
Hoje em dia tenho um comportamento pensado para estas situações.
Normalmente tento não tomar posição, a menos que depois de ouvir os argumentos de ambos os lados considere que haja "jogo sujo" de uma das pessoas, ou um lado que claramente não tem razão. Não é fácil que isto aconteça - quase nunca alguém tem toda a razão do seu lado, e frequentemente o jogo sujo surge como resultado de uma espiral de agressividade onde é difícil atribuir culpas unilateralmente.
Tento manter-me tão envolvido quanto possível para perceber o que se passa, dando sempre a entender que não vou participar nas "hostilidades". Disponibilizo-me para participar como mediador, mas evito manobras de bastidores (que podem ser mal entendidas) que possam influenciar o resultado. Basicamente tento estar lá para ajudar, mas não fazer com que o resultado depende de mim.
Um factor que uso muito frequentemente para decidir é o seguinte: não gosto nada quando alguém me tenta forçar a tomar uma posição. A pior coisa que um amigo me pode dizer quando luta contra outro amigo meu é: "ou estás comigo, ou estás com ele". Nestas situações quase sempre vou tomar posição junto da pessoa que não me obriga a escolher um lado. Não sei até que ponto é que isto é justo, mas é uma reacção que me sai naturalmente e que não consigo (nem tento) alterar.
É algo que tenho um certo interesse em saber - como é que as outras pessoas lidam com estas situações? Têm um comportamento pré-definido como eu, ou deixam-se guiar pelos eventos? Será que eu próprio sou demasiadamente inflexível, com uma maneira de actuar demasiadamente definida?
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1 comment:
Eu também já tive dilemas desses e tive o mesmo comportamento que tu. O pior que me podem fazer é obrigar-me a tomar decisões. Respeito as decisões de cada um e o melhor muitas vezes é não me envolver. Também é interessante pensar na perspectiva inversa. Eu já me vi de um dos lados beligerantes e a ter que gerir a minha relação com os meus amigos que também são amigos do outro lado. Tarefa nada fácil. Para além do mais, a minha natureza obriga-me a evitar o conflito. Mais uma vaga do oceano onde habitamos toda a nossa vida :-) Luis
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