Durante uma fase um pouco mais complicada da minha vida vi-me na necessidade de fazer uma instrospecção para me conhecer melhor, para definir um novo rumo a seguir e para aproveitar tentar mudar o que não gostasse. Dessa auto-análise surgiu um conjunto de conhecimentos sobre mim próprio que passei a usar no dia-a-dia para me manter coerente e seguro e que também uso como extrapolação na análise que faço dos outros para os compreender melhor - "conhece-te para conheceres os outros".
Uma das coisas que procurei perceber foi precisamente: como é que eu avalio as pessoas que me rodeiam? Como é que escolho os amigos? O que é que me atrai ou repele numa pessoa?
A primeira coisa que percebi foi que as minhas reacções eram instintivas - eu gostava (ou não) das pessoas frequentemente antes mesmo de as conhecer. Este foi um comportamento que tentei mudar - hoje em dia ainda tenho uma reacção instintiva imediata, mas em vez de a seguir tento guardar esta reacção subconsciente na minha parte racional para mais tarde tentar perceber porque é que apareceu, enquanto adopto uma atitude mais reservada e introvertida que me permita virar as costas ou seguir em frente.Comecei a adoptar este novo comportamento para tentar obter o melhor dos dois mundos: por um lado evito (ou tento evitar) os problemas que vejo nas pessoas sanguíneas - conclusões precipitadas, reacções a quente - e por outro não desprezo os instintos "animais" que frequentemente me dão boas indicações que merecem ser pelo menos ouvidas.
Há que dizer que a análise consciente e racional de uma pessoa é algo que faço quase sempre que conheço alguém, ou quando alguém faz algo com que eu não estava a contar. No entanto esta análise é demorada e normalmente tenho que a fazer num ambiente de relativa calma, frequentemente a posteriori para estar fora do calor do momento (que por vezes me pode toldar o raciocínio).
Esta demora na tomada de decisões é frequentemente inaceitável no contacto social comum, pelo que tenho que adoptar uma postura temporária enquanto não sou capaz de decidir o que acho de alguém. É nestas situações que tento usar o instinto subconsciente (sempre refreado pelos princípios de conduta racionais), de forma a ter uma orientação numa altura em que não consigo ter uma resposta racional fiável.
Quanto à forma como valorizo as pessoas: a minha descoberta fundamental foi que percebi que dividia (subconscientemente - hoje faço-o racionalmente de forma a tentar manter os instintos "alinhados" com o raciocínio) as qualidades das pessoas em três categorias.
Quando conheço uma pessoa tenho caracterizá-la em cada uma destas três categorias, de forma a decidir que tipo de pessoa é e que tipo de relação acho aceitável com essa pessoa:
O terceiro grupo de qualidades (em termos de importância) tem a ver com a simpatia, a meiguice, a bondade, o altruísmo. Uma pessoa que possui estas qualidades em quantidade é uma pessoa "simpática" ou "agradável". Não é uma qualidade fundamental - conheço algumas pessoas que considero bons amigos e que não são normalmente particularmente simpáticas ou agradáveis, mas considero uma qualidade importante e que sobretudo tem muito impacto na dinâmica de grupo em que estão inseridas.
O segundo grupo de qualidades tem a ver com a inteligência, a esperteza, o desembaraço e capacidade intelectual. Pessoas que possuem estas qualidades são "interessantes", em oposição às "superficiais" ou "desinteressantes". Dificilmente uma pessoa desinteressante se consegue aproximar muito de mim - não tenho muitos amigos próximos que não considere interessantes - embora não tenha qualquer problema em ter uma relação "social" normal com pessoas que
considere superficiais ou desinteressantes. São pessoas com as quais eu não procuro muito contacto, mas das quais também não fujo.
O primeiro grupo de qualidades tem a ver com a conduta moral - a honestidade, o sentido de justiça, a existência de uma ética que é seguida escrupulosamente.Uma pessoa que possua estas qualidades é alguém "de confiança". Alguém que não possua de todo estas qualidades serão normalmente "parasitas" ou simplesmente "alguém em que não confio".
As pessoas que possuem estas qualidades são as que mais valorizo - todas as pessoas que admiro têm padrões morais que considero muito elevados, e todos os meus amigos mais próximos têm a minha absoluta confiança (o que por um lado pode não ser muito bom, porque acabo por esperar muito deles e decepciono-me facilmente). As pessoas com quem procuro contacto mais próximo também têm de ser minimamente de confiança.
É de salientar que o código de regras seguido por uma pessoa não precisa de ser igual ao meu para que a pessoa tenha a minha confiança - tenho apenas que o considerar válido e tem que ser seguido integralmente, de forma que a pessoa seja previsível o suficiente. Evidentemente uma pessoa cujo código de conduta seja "eu à frente de tudo" é previsível, mas por muito escrupulosamente que esta ética seja seguida dificilmente a considerarei uma pessoa de confiança.
Uma curiosidade: há algum tempo atrás descobri (nos Analectos) que o confucionismo apresenta um conjunto de valores muito semelhantes a estes, com a diferença que a conduta moral é substituída pela "educação". No entanto esta descoberta já foi posterior a esta análise e portanto não teve qualquer influência a priori.
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1 comment:
Keep up the good work.
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