Monday, March 5, 2007

Política em duas e três dimensões

Este post foi inspirado no seguinte (excelente) link: http://www.friesian.com/quiz.htm
Quem quiser pode encontrar lá uma explicação mais detalhada do que aqui falo.

Existem pessoas que sabem sempre em que partido votar, outras que votam consoante gostam ou não das pessoas envolvidas e não nos partidos.
Eu nunca conheci suficientemente bem um político como pessoa para confiar-lhe o meu voto, pelo que a minha tendência natural é votar em partidos ou mais concretamente nas IDEIAS defendidas por esses partidos.
Desta forma de pensar surgiu um problema que tive (ainda tenho!) grande parte da minha vida: qual é o partido que está mais próximo das minhas ideias? Não só não consigo identificar-me com nenhum partido mas - mais grave ainda - não me consigo definir sequer como sendo de esquerda ou direita. Ainda não resolvi o problema, mas o link que apresentei no início deu-me uma imagem do porque é que acontece, o que me dá alguma paz de espírito:

Normalmente o espectro político estende-se ao longo de um eixo a uma dimensão, o que normalmente conduz a uma bipolaridade partidária: liberais/conservadores,
democratas/republicanos, trabalhistas/conservadores - enfim esquerda OU direita.
O meu problema é que em algumas questões - por exemplo o aborto ou a eutanásia - levam-me a pender mais para a esquerda, enquanto que noutras - a minha opinião sobre sindicatos ou legislação laboral - levam-me a pender mais para a direita, o que conduz à tal indefinição.

Pensemos agora no espectro político não como uma linha com uma dimensão, mas sim como um plano com duas, em que num dos eixos estão as liberdades individuais e no outro as liberdades económicas. Estes eixos são ortogonais (perpendiculares) em si, de forma que precisamos de duas coordenadas para nos identificarmos neste referencial - já não basta dizer sou de esquerda/direita, mas é necessário dizer - sou a favor de muita/pouca liberdade em termos individuais e a favor de muita/pouca liberdade em termos económicos.

Com esta divisão é possível criar cinco grupos de pessoas:

- Liberais: pessoas que acreditam em muita liberdade individual mas pouca liberdade económica. Um exemplo de um liberal seria uma pessoa com convicções comunistas.
- Conservadores: pessoas que acreditam em pouca liberdade individual e muita liberdade económica. Um exemplo de um conservador seria uma pessoa percentente ao nosso CDS.
- Autoritários: pessoas que acreditam em poucas liberdades. Um exemplo seria uma pessoa com tendências fascistas.
- Libertários: pessoas que acreditam em muitas liberdades. Um exemplo seria uma pessoa com tendências anarquistas
- Centristas: pessoas que estão mais ou menos a meio do espectro.

Notas:
- Nem todos os liberais são comunistas, nem todos os libertários são anarquistas, etc!!!!
- Na sociedade actual a liberdade é normalmente vista como algo bom, e a falta de liberdade como algo mau. Isto pode levar uma pessoa a pensar que ser libertário é que é "bom", enquanto que ser autoritário é "mau" - o que é completamente errado. Esta divisão não pretende separar os "bons" dos "maus", apenas identificar tendências e opiniões!!!

Esta divisão do espectro político permite-me definir-me com muita clareza - apesar de não ser um extremista, sou claramente um libertário. Acredito em muita liberdade tanto em termos individuais (e daí frequentemente concordar com a visão do BE ou do PC) como em termos económicos (e daí por vezes concordar com o CDS ou com o PSD).


A certa altura assustei-me ao pensar o seguinte: que me separa de um anarquista? Em termos de duas dimensões temos ideias MUITO parecidas, embora seja uma corrente com a
qual claramente não me identifico.

Daqui surge a terceira dimensão: imaginemos agora que temos uma dimensão adicional, que mede a forma como uma pessoa acha que o poder deve ser exercido - se o poder deve ser exercido apenas por uma pessoa (monarquia/ditadura), por um grupo pequeno (oligarquia), pela maioria (democracia) ou por todos (anarquia).

Na realidade (e apesar de isto cair mal em alguns círculos) em termos ideológicos para mim o regime político ideal seria uma ditadura iluminada - um regime político em que o poder é exercido por uma só pessoa, que no entanto permite bastantes liberdades aos indivíduos. Os ditadores iluminados são raros - houveram alguns durante o século XIX - e é um regime que tem tendência para colapsar com facilidade para uma ditadura não-iluminada (tirania) sob o peso da sociedade ou de condições externas. Adicionalmente é altamente dependente do ditador - de uma só pessoa- e portanto frágil como sistema no sentido que a sucessão é normalmente problemática.
Assim sendo em termos práticos acabo por tender mais para uma democracia de maioria, em que existe um indivíduo/conjunto de indivíduos eleitos pelas massas que consegue exercer a sua opinião durante um mandato (como tem acontecido com o governo actual), sendo dada a oportunidade à sociedade de escolher outro no fim desse termo.

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