Wednesday, March 14, 2007

O peso da injustiça

Para mim o princípio fundamental é a justiça - tenho a certeza absoluta disto. Se pudesse escolher uma virtude fundamental que um mundo ideal teria que ter, seria sem dúvida nenhuma a justiça.

Uma vez tive uma conversa com uma amiga em que ela defendia que a virtude fundamental era a bondade (ou o amor fraternal). Não concordo - acho que a bondade pode ser distorcida e gerar injustiça, enquanto que a justiça nunca é má - apenas cega e fria. É muito fácil imaginar uma situação em que a bondade gera injustiça: uma mãe que é bondosa para os seus dois filhos, mas que trata um melhor que o outro está certamente a ser injusta - mesmo que seja uma boa mãe, pode gerar sentimentos de tristeza ou mesmo revolta (e sobretudo de injustiça) isto apesar de tratar ambos bem.

Já houve quem me dissesse que isto me fazia uma pessoa fria e sem sentimentos. Não concordo! A justiça está para lá dos sentimentos - está acima disso, é mais fundamental. Eu consigo ser simpático e justo, ou antipático e justo - são qualidades independentes. Os únicos problemas surgem quando o sentido de justiça entra em conflito com outros sentimentos - é nestas situações que sinto ainda estar longe do ideal.
Por outro lado se uma pessoa me trata com injustiça não me interessa que me esteja a tratar bem ou mal - estou a ser injustiçado e isso chega-me. Vou certamente reagir mal ao sentir o peso da injustiça a empurrar-me para baixo. Se alguém me favorece injustamente também não me serve - envergonhar-me-ei de não merecer as vantagens que recaem sobre mim e lembrar-me-ei sempre da injustiça por trás do que ganhei - de forma que o ganho irá lentamente perder valor e ganhar peso até se tornar num fardo.

Na realidade considero a justiça suprema como um nirvana - nunca hei de lá chegar, mas é para lá que quero ir. Chamem-me intrasigente, antipático, frio, elitista, intolerante ou insensível à vontade - desde que ninguém me diga que fui injusto fico satisfeito. É que a injustiça fica-me na consciência como os doces ficam no corpo: uns segundos nos lábios, uma vida inteira nas ancas.

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